Complexo e desafiador, tema exige união e iniciativas
“Como dialogar com o público em um mundo cheio de informações?”. A busca pela resposta para essa pergunta lotou o Auditório Rubens Corrêa, no Centro Cultural José Octávio Guizzo (CCJOG), na tarde de domingo (30).
Mediado pelo jornalista de arte e cultura Alexandre Matias, pioneiro e referência no ramo que está à frente do site Trabalho Sujo há 30 anos, o painel atraiu a atenção dos participantes da Feira da Música, que fez parte da programação do Campão Cultural. Músicos, instrumentistas, artesãos, criadores de moda autoral e produtores lotaram o auditório para debater com Daniel Ganjaman, Octavio Cardozzo e Letz Espíndola.
Daniel Ganjaman é produtor musical, engenheiro de áudio e músico brasileiro. Conhecido por seus trabalhos com artistas como Criolo e BaianaSystem, tem quatro indicações ao Grammy Latino, vencendo uma delas. De acordo com ele, para começar a responder à pergunta que o painel propôs, é fundamental entender a gravidade do que está posto quando se fala de comunicação global. “Quando a internet surgiu, tínhamos a falsa ideia de que estávamos entrando num universo de comunicação extremamente democrático, que todo mundo ia ter muito mais autonomia e gerenciar melhor o próprio trabalho. Até que a gente percebeu que tinha muita grana e interesses financeiros envolvidos; e depois a gente percebeu que a questão ideológica também mandava muito”, afirma.
Para exemplificar sua fala, Daniel lembra que a comunicação do mundo se encontra hoje concentrada nas mãos de apenas quatro pessoas, entre elas Mark Zuckerberg da Meta, e Elon Musk, dono do X e da SpaceX, que têm o poder de manipular e direcionar tudo para atender seus próprios interesses. “Interesses esses que nunca foram tão claros”, completa.
Focar na arte
Já o jornalista Alexandre Matias reconhece com preocupação o cenário, mas alerta para uma possível armadilha. “Quando comecei a cobertura de arte, cultura e comportamento, lá em 1995, a realidade era diferente, a internet era discada, lenta, era tudo muito novo e inacessível, e agora as dificuldades são outras, justamente por conta da internet e suas consequências, seus desdobramentos. Ou seja, toda época vai ter sua dificuldade. O que me preocupa é o quanto essa discussão sobre as dificuldades está tirando o nosso foco do fazer artístico”, declarou.
Para Alexandre, fazer sucesso para um público gigantesco pode parecer um cenário maravilhoso para os artistas e o objetivo de suas carreiras, mas, por outro lado, pode ser um martírio. “Pode ser que cair no gosto da grande mídia, dos grandes festivais – que é quem tem dinheiro para investir em comunicação, te aprisione artisticamente. Porque você entra num mercado como um produto e tem que produzir o que vende, que nem sempre é o que você gostaria de produzir. Aí você perde a essência da sua arte”, explica.
Mas isso não significa que a classe artística deve ficar passiva, apenas vendo a comunicação global levar o mundo para uma realidade hostil. Para Daniel, é preciso se mexer e propor novas estruturas de comunicação. “Elas não precisam ser hegemônicas, mas elas têm que existir, a gente não tem nada nesse momento. A gente tinha o MySpace, por exemplo, que era um ambiente extremamente acolhedor e era focado em música. Então a gente precisava retomar isso. A gente tem que recuperar nossa subjetividade”, finalizou.
O Campão Cultural acontece de 27 a 30 de março e de 3 a 6 de abril. Para conferir a programação completa, acesse o site ms.cultural ou siga a página @festivalcampaocultural no Instagram.
texto: Bianca Bianchi
fotos: Maurício Costa Jr