Publicado em 22 ago 2025 • por Daniel •
Iniciativa da 1ª Promotoria de Justiça de Bonito estreia no Festival de Inverno e pretende transformar o crochê em ferramenta de renda e acolhimento social
Durante o Festival de Inverno de Bonito 2025, cerca de 20 mulheres e um homem participam da oficina ‘Fiando Bonito’, iniciativa da 1ª Promotoria de Justiça de Bonito que alia crochê, acolhimento e geração de renda. O projeto nasce com a proposta de se tornar contínuo após o evento, oferecendo novas oportunidades para pessoas em situação de vulnerabilidade.
A ideia surgiu dentro da 1ª Promotoria de Justiça de Bonito, onde várias mulheres já usam a atividade do crochê como hobby e até como uma forma de aliviar o estresse. “Quando a Fundação de Cultura de MS perguntou de que forma o Ministério Público gostaria de participar do Festival de Inverno de Bonito, a promotora de justiça Ana Carolina Lopes de Mendonça Castro, que é de família de artesãs, pensou que seria uma boa ideia levar para outras mulheres o conhecimento já compartilhado entre nossas colegas”, disse a assessora jurídica Monique Gomes da Cunha. Ela é uma das idealizadoras e professora voluntária de crochê.
Monique conta também como foi incentivada a dar os primeiros laços na agulha do crochê. “Foi a própria Dra. Ana Carolina quem me deu minha primeira agulha. A partir daí comecei a fazer bolsas com fios de malha assistindo a vídeos no youtube”.
A promotora de justiça chama o crochê de beleza curativa, já que a arte e a beleza encantam e vendem. Então o projeto foi uma forma que ela encontrou de ajudar a mudar a realidade de muitas mulheres com sérios problemas domésticos, mas que não conseguem sair dessa situação.
“Se eu não consigo falar com essas mulheres que um dia já passaram pela minha mesa de trabalho pelo processo penal, pois elas estão exercendo o direito ao silêncio, vou falar com elas pela arte e pela geração de renda. Dentro dessa sala, a princípio, não sabemos se tem alguma pessoa que passou por algum processo, mas pensamos que elas seriam nosso público, pois queremos que elas vençam alguma vulnerabilidade através da fabricação de beleza. Beleza vende e é curativa”, explica Ana.
Ariene Ferreira, 22 anos e mãe solo de dois filhos, conta por que procurou o projeto Fiando Bonito. “Não sou casada, mas tenho duas crianças. Decidi que quero ser uma artesã de crochê, porque eu gosto muito, e depois vender minhas peças”.
Mari Lúcia Marinho, de 51 anos, já é artesã, mas foi em busca de novos conhecimentos. “Conhecimento é sempre importante pra gente se reciclar, levar novidades para nossos clientes, pois temos que procurar fazer aquilo que nos agregue valor. E também é uma fonte de renda, né? Pois hoje preciso ficar mais em casa com minha filha que está com câncer. Então, nesses momentos que estou com ela, fico produzindo para ajudar no tratamento dela”.
A servidora pública Janete dos Santos procurou o projeto vislumbrando uma maneira de conseguir renda extra e conta que vai aprender tudo do zero. “Quero aprender, porque nunca fiz essas coisas de artesanato. Mas a minha expectativa é que eu realmente aprenda, pois eu acho que é bom pro cérebro fazer uma coisa totalmente diferente e eu também pensei que, além disso, posso ainda fazer uma renda extra. Tenho crianças pequenas e posso fazer algo pra elas também”.
O projeto Fiando Bonito tem parceria com o CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social de Bonito), da Coordenadoria das Mulheres da Prefeitura de Bonito e, durante o Festival, a FCMS (Fundação de Cultura do Estado) também é parceira. As alunas e alunos aprenderão os primeiros passos da crocheteria com fio e a ideia, neste primeiro momento, é que criem bolsas. Quem terminar sua primeira peça até o último dia de aula no Festival de Inverno de Bonito, sairá do curso com a carteirinha de artesão cedida pela FCMS.
Lourdes Schwind, Coordenadora do CREAS, explica a parceria com a promotoria. “Fomos convidados para fazer parte desse projeto e estamos investindo nessas mulheres que atendemos. A maioria são mulheres que sofreram algum tipo de violência e ações de acolhimento e apoio emocional como essa são importantes para elas. Também tem a questão da renda, pois muitas vezes elas não conseguem sair do ciclo de violência porque não têm a própria renda. E com independência financeira elas podem sair dessa situação. Então esse projeto pode abrir portas para essas mulheres”.
Outra parceria é com a Coordenadoria das Mulheres da Prefeitura de Bonito. A coordenadora Luiza Lima fala da importância de projetos que apoiem as mulheres mais vulneráveis. “A maior dificuldade é das mulheres saírem dessa bolha financeira, pois além dela se verem dependentes financeiramente, isso também afeta o lado emocional. Com o apoio do Ministério Público, as mulheres se sentem mais fortalecidas. Então nosso trabalho ´q para que essas mulheres não desistam do projeto, pois é normal que com o tempo algumas comecem a desistir, já que não sabemos o que acontece dentro da casa delas”.
“Nossa intenção não é só ensinar a fazer a peça, mas também ensinar como se inserir no mercado de trabalho. Queremos dar também orientação para gerar a emancipação financeira dessas mulheres, pois se uma mulher deixar de ser dependente do marido e ter sua própria renda é bem melhor para ela. Nossa intenção é essa. E, para isso, o projeto conta com o apoio de empresários locais e um exemplo é a empresária Juanita, que já se colocou à disposição para expor as peças dessas mulheres para os clientes de seu restaurante”, finaliza a assessora jurídica Monique.
Aulas e inscrições
A ideia é que, após o Festival de Inverno de Bonito, as aulas sejam semanais. Os materiais iniciais para a realização do curso, como agulhas e linhas, são entregues gratuitamente para as alunas e foram comprados pela promotoria através de verbas oriundas dos acordos de não persecução penal que o Ministério Público têm à disposição.
Mulheres de Bonito e região que queiram participar do projeto ‘Fiando Bonito’ podem entrar em contato com a promotoria pelo whatsapp 67 99205-1219. Caso as vagas estejam preenchidas, as pessoas entram numa lista de espera e, assim que surgir uma nova turma, quem já manifestou interesse terá prioridade.
Texto: Débora Bordin – Asscom/FIB
Fotos Diego Cardoso – Asscom/FIB