Publicado em 22 ago 2025 • por Daniel •
O bate-papo literário Afrocentradas, que aconteceu na tarde desta sexta-feira (22) no Lounge Educativo Geek Literário, na Praça da Liberdade, durante o Festival de Inverno de Bonito 2025, foi uma oportunidade de falar sobre literatura e representatividade negra. Os escritores Maria Carol e Rafael Belo falaram sobre a potência dessa literatura afrocentrada e o quanto escrever e falar sobre ser uma pessoa negra na sociedade é um ato político.
Primeira a falar, a escritora e psicóloga Maria Carol abordou o afeto, o amor, e a importância da palavra enquanto uma ferramenta de empoderamento, de existência. “A gente entende que cada vez mais pessoas negras precisam se apropriar da sua história, precisam escrever e a gente espera muito poder contribuir com isso, então a gente tem vários planos de fazer a literatura, de estar cada vez mais nos espaços para inspirar as pessoas e para a gente criar um grande quilombo literário”.
Maria Carol acabou de lançar seu primeiro livro, “Carta aos afetos”, que ela lançou em junho na Bienal do Rio de Janeiro. “Então, eu estou curtindo bastante esse período de lançamento, tem sido um momento muito bonito, estou tendo muitas conexões, o livro fala sobre a revolução de ser uma mulher que gosta de mulheres, então, literatura sáfica, uma literatura que produz pertencimento. Então a gente vai pensar e ficar com uma forma de falar sobre todas nós”.
O escritor, poeta e jornalista Rafael Belo, falou sobre a sua vivência, sua “árvore vivente”. “Eu sempre digo que não adianta a gente chegar lá sem levar todo mundo que a gente pode. Nossa, eu digo das pessoas pretas pra esse lugar. Não faz sentido a gente chegar só nesse lugar que já sai do conceito de África. Que a África você não faz nada sozinho. Tem o antigo provérbio que diz que é preciso uma aldeia inteira pra criar uma criança. Nós somos muitos, mas publicados somos poucos. Então eu e a Carol também estamos num projeto específico para educar as crianças com poesia. Temos as crianças pretas, com poesia preta. Nós estamos com uma pesquisa do continente africano, que as pessoas normalmente veem a África como um país, como um espaço territorial continental, que inclusive está errado no mapa mundo, que foi feito por um holandês, segundo a perspectiva dele de importância dos países. A África tem pelo menos dez vezes maior do que o tamanho que tem no mapa mundo. No momento dessa perspectiva, fazer um alentamento das pessoas por meio da nossa escrita”.
Na plateia, a artista visual Erika Pedraza, que tem obras suas expostas na Galeria de Artes Visuais do Festival, participou das discussões. “Ah, foi maravilhoso. Acho que tem que ter mais desses encontros. Todo festival tem que ter esse tipo de encontro. Porque para a gente se conhecer, para um conhecer o trabalho do outro e a gente se afrocentrar”.
Jéssika Rabello, que trabalha com moda, também participou das discussões. Os escritores Maria Carol e Rafael Belo estavam vestidos com criações suas. “Ter a Maria Carol e o Rafael, que são referência da literatura em Campo Grande, aqui no Festival é dar continuidade ao nosso trabalho. Então, eu me vejo, eu me leio e eu sinto quando eu estou sendo escutada. Porque a partir do momento que eles estão ali, nós também estamos. Eles não chegam sós”.