Casa Sul-mato-grossense ganha espaço no 24º Festival de Inverno de Bonito e valoriza artesanato local

  • Publicado em 22 ago 2025 • por Daniel •

  • Novo ambiente da Galeria Curandera propõe diálogo entre arte, design e identidade cultural de Mato Grosso do Sul

    Bonito (MS) – O 24º Festival de Inverno de Bonito (FIB) ganhou um espaço inédito em 2025: a Casa Sul mato-grossense, ambiente criado pela Galeria Curandera, sob curadoria da idealizadora Ana Kreutzer, em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. O espaço de exposição reúne artesanato, arte contemporânea e design em uma proposta que convida o público a refletir sobre pertencimento, identidade e a presença da cultura regional no cotidiano.

    Segundo Ana Kreutzer, a concepção do espaço partiu da ideia de misturar linguagens que tradicionalmente são vistas como separadas.
    “A proposta aqui é um convite ao reconhecimento, ao pertencimento e à expressão do que seria uma casa sul mato-grossense hoje. Misturamos arte contemporânea, pintura, artesanato e design em um mesmo ambiente, de forma que as pessoas consigam se inspirar e imaginar essas peças também em suas próprias casas. O artesanato faz parte da nossa identidade cultural e quando levamos isso para dentro do lar, passamos a habitar a cultura”, destacou.

    Ambientes que traduzem a cultura

    A Casa foi pensada como uma residência viva, em que cada espaço traduz um aspecto da identidade sul-mato-grossense. Logo na entrada, o hall com um espelho dá boas-vindas ao visitante. Em outro ambiente, originalmente projetado como uma sala de TV, há referências às telarias e ao universo do laço. Já a sala do rio traz uma paleta de cores inspirada nas águas que marcam a região, junto a elementos da cultura da Sereiada, representada pela artesã Mari Estrela, reconhecida como cultura viva dessa tradição. Suas cabaças e abgês, também compõem a exposição.

    Outro destaque é a mesa posta, símbolo de acolhimento de toda casa, que remete à convivência e partilha. O espaço ainda conta com vitrines rotativas, que isolam peças artesanais para que o público perceba seus detalhes e valor artístico, além da Coleção Joias, localizada no centro da casa, tratada como um altar. Ali, o visitante encontra cerâmicas indígenas das três etnias de Mato Grosso do Sul, com explicações sobre técnicas, cores e traços. Fotografias recentes das aldeias ajudam a contar a história desses objetos, incentivando o público a conhecer e comprar diretamente das comunidades indígenas.

    “O centro da casa é a nossa ancestralidade, o alicerce da cultura. É ali que contamos a história da cerâmica sul-mato-grossense e mostramos como ela mantém viva a memória e a identidade dos povos indígenas”, explica Ana.

    Um olhar artístico para o artesanato

    Para a diretora de Artesanato e Moda da Fundação de Cultura de MS, Katienka Klain, o novo espaço simboliza uma mudança importante na forma de apresentar o artesanato.
    “O artesanato sempre esteve presente no Festival de Inverno, mas muito voltado à geração de renda e à comercialização. A proposta da Ana trouxe uma provocação necessária: olhar para o artesanato também como arte, como referência cultural que pode habitar nossas casas e traduzir a identidade sul-mato-grossense. Dentro de uma feira, muitas vezes as peças ficam amontoadas e não conseguimos enxergar toda a beleza do trabalho. Aqui, no formato de exposição, o público tem um olhar diferenciado para cada peça, o que valoriza o artesão e, ao mesmo tempo, potencializa as vendas”, destacou.

    Para os visitantes, a experiência é envolvente. “Achei incrível ver o artesanato desse jeito, junto com arte e design. Nunca tinha imaginado uma peça tradicional como parte da decoração da minha casa, mas aqui percebi como isso é possível. Dá vontade de levar um pouco de Mato Grosso do Sul comigo”, relatou a turista paulista Mariana Oliveira.

    Os próprios artesãos celebram a oportunidade em forma reconhecimento do papel na cultura do estado.

    Já o artista plástico Jhorg Gaona ressaltou a importância da experiência coletiva:
    “Ter uma exposição em uma casa sem portas é incrível. O contato com outros artistas gera uma simbiose sem tamanho, porque cada um contribui de forma natural para transformar o ambiente; do barro até uma peça feita em ferro”, disse.

    O espaço da Casa Sul mato-grossense permanece aberto ao público durante todo o Festival, com programação que inclui exposições rotativas e mediação cultural.

    Gabriela Junqueira

    MTE – 1034/MS

    Categorias :

    Festival de Inverno de Bonito

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