Publicado em 21 ago 2025 • por Daniel •
Transmissor sem fio, afinador digital, microfones do tamanho de uma moeda. A tecnologia sonora de última geração potencializa os sons de uma tradição que atravessa séculos. Na Catira, o acústico é essência: vibra no timbre metálico das cordas da viola, no compasso das palmas e no bater compassado dos pés, elementos indispensáveis para manter viva a sonoridade ancestral dos sertões do Brasil e de Mato Grosso do Sul.
Ministrada por Girsel da Viola, pela pesquisadora Ariane Rodrigues e pela dupla Marcos e André, a oficina de Catira e Viola Caipira integrou, nesta quinta-feira (21), a programação do Festival de Inverno de Bonito. A atividade promoveu uma verdadeira imersão nas raízes da cultura caipira, conduzindo os participantes pelos toques tradicionais do instrumento, pela cadência das palmas, pelo sapateado e pela sincronia que dão vida a essa expressão popular.
O encontro começou de forma teórica, mas logo se transformou em prática: os participantes foram convidados a experimentar os primeiros passos da dança, compreender as diferenças dos sincopados e perceber como cada região do Brasil moldou sua própria maneira de fazer Catira. Ao som da viola, a teoria se dissolveu em vivência, e todos mergulharam de imediato na tradição.
“A Catira está no Brasil desde cerca de 1580. Os jesuítas trouxeram a viola de Portugal para atrair as comunidades indígenas e catequizar. Aqui no território de Mato Grosso do Sul, inclusive, houve registros com os indígenas Caiapós. Mais tarde, ela se desenvolveu também junto aos escravizados e, ao longo do tempo, nas comunidades negras, em diferentes localidades, cada uma imprimindo sua particularidade”, explica Girsel da Viola.
A pesquisadora Ariane Rodrigues ressalta a vitalidade da prática. “A Catira representa nossa tradição sertaneja e segue muito viva. Temos visto uma participação cada vez maior nos shows e oficinas, principalmente entre os jovens, que acompanham e aprendem Catira inclusive pelas redes sociais. Essa adesão mantém a expressão em crescimento e nos dá esperança de vê-la sempre presente nas próximas gerações.”
Diferentes Catiras, uma mesma raiz
A Catira é fruto do encontro de múltiplas culturas que moldaram a identidade brasileira desde o período colonial. Cada estado lhe deu novas nuances, mas sem perder a essência: a dança marcada pelo bater de pés, pelas palmas ritmadas e pelo compasso da viola.
Em Mato Grosso do Sul, destacam-se influências da mineira, mais lenta, comum na região de Camapuã; da goiana, marcada pela velocidade e energia que tem atraído novos adeptos; e da paulista, mais sincopada e rítmica.
Essas diferenças foram apresentadas durante a oficina, com explicações da dupla Marcos e André, acompanhados pelo dedilhado firme de Girsel da Viola, numa demonstração que mostrou a riqueza e diversidade da tradição. Confira:
Mais oficina
Desenvolvida em duas etapas, a oficina segue também nesta sexta (22 de agosto), a partir das 9 horas, no Clube do Laço Nabileque, com entrada franca. A aula Catira com Preparo Corporal irá desenvolver a prática dos passos tradicionais, além de alongamento e preparo físico para evitar lesões e potencializar o desempenho.
Festival de Inverno de Bonito
Em sua 24ª edição, o Festival de Inverno de Bonito acontece de 20 a 24 de agosto, reunindo música, artes cênicas e visuais, cinema, sustentabilidade, formação cultural e economia criativa. O evento promove uma imersão única entre arte e natureza, com entrada gratuita.
Mais informações e a programação completa estão disponíveis no site: mscultural.ms.gov.br.
Texto: Marcio Breda – Asscom/FIB
Fotos: Ricardo Gomes – Asscom/FIB