Campo Grande (MS) – As escolas de samba de Campo Grande deram um show de colorido, alegria e demonstraram toda a sua paixão pelo carnaval e pela cultura brasileira e sul-mato-grossense na noite desta terça-feira (05.03) na Passarela do Samba. Desfilaram “Unidos do Cruzeiro”, “Catedráticos do Samba”, “Deixa Falar”, “Igrejinha” e “Unidos da Vila Carvalho”.
A Fundação de Cultura apoiou o evento com repasse de recursos financeiros para a Liga das Escolas de Samba de Campo Grande (Lienca) e apoio estrutural, com arquibancada e tendas. A diretora-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Mara Caseiro, apaixonada pelo carnaval, acompanhou o desfile. “Já estive na avenida, já desfilei, a emoção e o sentimento afloram, é inexplicável. Para quem assiste e para quem se apresenta, é emoção total”.
Mara Caseiro (centro); Nilde Brum (esq., de amarelo); Eduardo Neto (de verde)
Para Mara, é importante a Fundação de Cultura apoiar o evento por se tratar de uma festa popular aberta a todos. “É importante trazer entretenimento para as pessoas. As escolas trazem temas para a passarela de pessoas que fizeram história em Mato Grosso do Sul e no Brasil. O carnaval aquece o comércio, entre várias outras coisas boas, permite a cada um extravasar um pouco do que pensa”.
Mara Caseiro e Eduardo Neto com 1ª princesa (Iasmin Calazans); 2ª princesa (Rhayssa Ortigosá); rainha (Luciene Matias) e Rei Momo (José Tadeu)
Para o presidente da Liga das Entidades Carnavalescas de Campo Grande (Lienca), Eduardo Souza Neto, o apoio financeiro e institucional da Fundação de Cultura é fundamental para a realização do desfile. “Com o apoio da Fundação de Cultura na proposta de trabalho da Liga as escolas procuram se aprimorar para dar um retorno, a qualidade do desfile melhora a cada ano”.
A secretária municipal de Cultura e Turismo, Nilde Brum, agradeceu ao Governo do Estado pela parceria na realização do carnaval em Campo Grande. “Agradeço o apoio do Governo do Estado, que não mediu esforços para realizar o carnaval em Campo Grande com o desfile dos blocos oficiais e independentes e o desfile das escolas de samba. O Estado está sempre junto conosco para trazer esta festa linda para a população”.
As pessoas que vieram prestigiar manifestaram toda a sua alegria e torcida por sua escola preferida. Josi Carmo, de 40 anos, que trabalha com serviços gerais, veio com sua mãe, Maria de Lourdes Batista, 64, aposentada, e com seu filho, Igor, de sete. A família é descendente de Tia Eva e sempre assiste aos desfiles torcendo por sua escola do coração, a igrejinha. “Nós moramos no bairro e a escola ensaia em frente à minha casa”, diz Maria de Lourdes, que já desfilou na ala das baianas. “Carnaval é diversão, sabendo respeitar o outro, dá pra se divertir com samba no pé. Aqui você vem curtir com a família, se divertir, é um lugar onde você pode levar os filhos”, diz Josi.
Outra família que todo ano vem prestigiar o desfile é a família Silva, que torce pela escola Deixa Falar. A confeiteira Maria Socorro, 46, veio com as filhas, Karine, 23, e Caroline, 26, que trouxe por sua vez seus filhos Luiz Fernando, de 11 anos, e José Luiz, de apenas um ano e meio. “Nós temos nossos amigos e parentes que desfilam na ‘Deixa Falar’. Carnaval é festa, é alegria, é tudo de bom”, diz Maria Socorro. “Muitas pessoas não sabem aproveitar o carnaval, mas a gente gosta. Este ano está bem tranquilo, tem bastante policiamento”, afirma Karine.
Carnaval é integração da família até na avenida. Heloisa Silva Rodovalho, de 19 anos, desfilou na Comissão de Frente da “Unidos do Cruzeiro”, e para poder desfilar, sua mãe foi ao seu lado carregando seu filho recém-nascido, Enzo, de quatro meses. “Ano passado ele desfilou na barriga, este ano eu o trouxe para ele já se acostumar”.
A Unidos do Cruzeiro trouxe o samba-enredo “Cabra da peste, eu sou o Nordeste”, homenageando a cultura desta região do país. O diretor de carnaval da escola, Thierrys Guedes, apresentou na avenida um pouco da história do “povo mais festeiro do Brasil”. “Nos inspiramos em Luiz Gonzaga, eu sou um os autores do samba-enredo, utilizei elementos do baião, xaxado. Aqui a vibração das pessoas nos contagia”.
Depois foi a vez da “Catedráticos do Samba”, com o enredo “A magia do mundo árabe”. Os figurinos e carros alegóricos foram recheados de referências à arquitetura e elementos da cultura árabe. A presidente da escola, Marilene Pereira de Barros, escolheu o tema por se tratar de “uma cultura muito bonita, que trouxe muito progresso para Mato Grosso do Sul e para o Brasil”. “Nós temos o nosso carnavalesco, o Paulo Matias, que busca a história para compor as roupas, ele vai a fundo mesmo. Tivemos cadeirantes desfilando, nossa escola sempre tem esse lado social mesmo. É a terceira vez que trazemos deficientes físicos para a avenida”.
“Simplesmente, Maria da Glória Sá Rosa”, homenageando a professora que fez muito pela cultura do Estado, falecida há cerca de dois anos. “A professora Glorinha é um divisor de águas, existe a cultura sul-mato-grossense antes e depois dela. O tema nos foi indicado pelo Moacir do Grupo Acaba e tivemos várias pessoas que nos ajudaram a compor esta história, como Henrique de Medeiros, Roberto Figueiredo, Idara Duncan. A professora Glorinha trabalhou com teatro, cinema, música, em todo tipo de arte ela botou seu dedo”, diz o presidente da escola, Francis Fabiano.
A escritora Sylvia Cesco, que representou Maria da Glória Sá Rosa no carro alegórico, demonstrou toda sua emoção por sua professora no colégio estadual e na faculdade. “Convivi com a professora Glorinha por 41 anos, fizemos juntas projetos culturais, festivais de música, ela sempre me incentivou muito. Tínhamos uma afinidade muito grande, graças a ela me entreguei de corpo e alma à cultura. É uma energia que nos liga, que nos une”.
Outra escola que homenageou uma personalidade sul-mato-grossense foi a “Igrejinha”, com o enredo “Scalise e Igrejinha, arquitetando folia, abençoado arteiro por natureza”. A igrejinha decidiu homenagear o arquiteto Luis Pedro Scalise por ele ser uma referência, e trouxe para a avenida parte de seus feitos realizados na Capital, que elevaram o Estado de Mato Grosso do Sul a nível nacional.
A escola trouxe a ala “Casa e Cor”, os carros alegóricos “Pele Vermelha”, “Valley Tay” e “Realização dos Sonhos”, este último retratando a “Casa do Papai Noel”, todos projetos e realizações de Scalise. O arquiteto afirmou para a organização da escola que começou a perceber que estava conquistando seu espaço quando participava de feiras e vinham procurar pelo “sul-mato-grossense”. “Para o profissional, estas experiências mostram a força do Estado no País”.
Fechando o desfile das Escolas de Samba de Campo Grande, a “Unidos da Vila Carvalho” comemora o seu Jubilei de Ouro com o enredo “A Vila conta, canta e encanta os seus 50 anos”. A Escola foi fundada em 15 de outubro de 1969 e desde a fundação teve a Vila Carvalho como seu bairro.
A Comissão de Frente retratou a “Alegria da Vitória”, com as colombinas, e a “Tristeza da derrota”, com os pierrôs, mostrando o que é a realidade de uma escola de samba quando ela busca a vitória pelo seu desempenho e de vez em quando acontece a derrota. “Na escola temos uma comunidade que ama a escola e trabalha, torce, ajuda e sofre a ponto de deixar sua casa e se dedicar todo ano em executar as fantasias, ajudar nas costuras, bordar, colar, arrumar, criar como os carnavalescos, que deslumbram nosso povo no dia do carnaval com belíssimas fantasias”, afirmou a diretoria da escola para os organizadores do carnaval 2019.
Os jurados vão se reunir às 17 horas desta quarta-feira (06.03) para definir os vencedores de 2019. Os quesitos avaliados serão: bateria, samba-enredo, comissão de frente, evolução, fantasias, enredo, harmonia, alegorias e adereços, mestre-sala e porta-bandeira e conjunto. Toda esta alegria e beleza com certeza vai ficar na memória do povo campo-grandense. E agora, é esperar pelo carnaval do ano que vem!
Fotos: Ricardo Gomes