Espetáculo da Orquestra Sinfônica e Coro de Campo Grande foi comandado pelo maestro Eduardo Martinelli
A noite de sexta-feira (23) começou com uma novidade no cenário musical do Festival de Inverno de Bonito. A música clássica ecoou com a ajuda da acústica da Igreja Matriz de Bonito que, pela primeira vez, fez parte da programação oficial do FIB.
O secretário da Setesc (Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Mato Grosso do Sul), Marcelo Miranda, conta como foi integrar um lugar tão sagrado para os bonitenses num dos mais importantes festivais do Estado.
“Quando começamos a organizar o FIB do ano passado, nos passaram a informação de que o Padre Israel tinha um grande problema em relação ao Festival, que ele não gostava e que nem adiantava tentar conversar sobre isso, mas viemos falar com ele assim mesmo e entender o porquê. Foi então que o padre nos disse que só queria ser respeitado, pois a programação atrapalhava os horários de missa. Assumimos o compromisso de respeitar esses horários e ele foi super parceiro, inclusive agradeceu ao Governo do Estado a esse respeito ao final de uma missa”, relata Marcelo Miranda.
No mesmo período, a música clássica ganhou mais espaço no cenário cultural sul-mato-grossense e foi então que surgiu a ideia de inseri-la na programação cultural com a apresentação intitulada ‘Catedral Erudita’, a princípio no Festival América do Sul de 2023, que acontece há quase 20 anos em Corumbá. A apresentação foi um sucesso e imediatamente foi inserida na programação do Festival de Inverno de Bonito 2024.
“Temos música clássica erudita de muita qualidade em Mato Grosso do Sul e tínhamos que integrá-la aos festivais. Depois do sucesso em Corumbá, lembrei da nossa conversa com o Padre Israel e pensei em perguntar se podíamos apresentar o Catedral Erudita na Igreja Matriz de Bonito. E ele aceitou. Agora essa capela, de 95 anos de idade, está totalmente integrada ao Festival de Inverno, sempre respeitando os horários de missa”, conclui o secretário.
Segundo o Padre Israel Moura dos Santos, a Paróquia São Pedro Apóstolo (Igreja Matriz), ocupa o coração de Bonito e, por muitos, anos foi engolida pelo próprio Festival de Inverno. “Mas a atual administração do Governo de MS integrou a capela de forma muito significativa”.
Além da apresentação de música clássica, a fachada da capela recebe a projeção “Dessa Capela pulsa Bonito”, com imagens que contam a religiosidade e a história do município de Bonito, que começou exatamente na rua da capela.
“Para nós é muito significativo esse momento em que nos integramos ao Festival, pois a igreja sempre foi uma das maiores fomentadoras da cultura bonitense, com as festas religiosas. Estar na igreja hoje, vendo esse acontecimento lindo que é a apresentação Catedral Erudita, tem um significado intelectual, cultural e artístico muito forte. Integrar a igreja ao FIB é muito forte, muito significativo e dá um grande valor não só à igreja, mas também à história e à comunidade de Bonito”, enaltece o padre Israel.
Orquestra
Sob sorrisos, lágrimas e aplausos efusivos da plateia, a Catedral Erudita se apresentou com 38 músicos da Orquestra e Coro de Campo Grande no FIB 2024. Entre eles, músicos importantes e premiados, como a cantora lírica Elouise Miranda, que ganhou o terceiro lugar no Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas e o três-lagoense Brenner Rozales, que tocou na Orquestra Filarmônica de Israel e foi regido pelo lendário maestro israelense Zubin Mehta.
Sob a regência do maestro Eduardo Martinelli e do responsável pelo Coro, Denis Lopes, a Orquestra e Coro de Campo Grande iniciou com a ‘Misa Criolla’, de Ariel Ramirez. Os solos de árias de ópera foram de Bianca Danzi (ária da Rainha da noite, da Ópera a Flauta Mágica, de Mozart), Luciana Fisher (Habanera, da Ópera Carmen, de Bizet), Elouise Miranda (Aleluia, de Mozart), Denis Lopes e Vinícius Weiler (ária La Donna È Mobile, de Rigoletto e O sole mio, de Giovanni Capurro e Eduardo di Capua).
A Orquestra encerrou a noite de forma emocionante com a belíssima música italiana Con te partirò, escrita por Francesco Sartori e Lucio Quarantotto e que ficou mundialmente conhecida na voz de Andrea Bocelli, no Festival de San Remo de 1995, considerado um dos mais importantes eventos de musicais do mundo.
“Pela primeira vez eu vejo uma sensibilidade tão grande por parte de dirigentes do setor de cultura do Estado. Sempre vi muitos acertos após provocações, mas esse acerto foi espontâneo. Não tem como eu deixar de parabenizar, pois (antes) não teve uma única vez que dei alguma sugestão e fui, no mínimo, ouvido. Isso é muito importante para nós que fazemos esse tipo de música tão viva e que foi feita há mais de 200 anos. Com a música clássica vivemos, de uma certa forma, a ancestralidade. Isso nos emociona muito, principalmente quando podemos ver pessoas tocando a música, cantando e nos levando para um outro tempo através da arte”, finaliza o maestro Eduardo Martinelli.
Débora Bordin, Festival de Inverno de Bonito
Fotos: Elias Campos