Campo Grande (MS) – Será retomada no próximo dia 24 em formato online a Mostra de Cinema Brasileiro Contemporâneo, projeto realizado em parceria entre o Museu da Imagem e Som (MIS), da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e o Curso de Audiovisual da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Aberto gratuitamente ao público em geral, em especial aos que frequentavam o MIS e os acadêmicos do curso da UFMS, a ideia é que os interessados possam acessar no modo online em uma plataforma somente para os participantes.
Apesar de programado nos moldes do Cine Café, realizado pela Fundação de Cultura no ano passado, com exibição gratuita de filmes seguidos de debates, esse novo projeto teve de se adequar à situação de pandemia por meio das mídias sociais. Os interessados deverão preencher um formulário disponibilizado nas redes sociais da Fundação de Cultura. Esses dados serão encaminhados para um grupo de WhatsApp onde o link para o filme será disponibilizado 24 horas antes do debate que também será acessado de forma online. “A ideia é que as pessoas recebam o link através de WhatsApp, assistam ao filme e, no horário das 19 horas, a gente faça uma conversa mediada pelo Júlio [Bezerra] e pelo Vitor [Zan] sobre esse cinema ”, esclarece Marinete Pinheiro, coordenadora do MIS.
Segundo Marinete Pinheiro, uma primeira sessão já ocorreu em meados de março, mas o projeto teve de ser interrompido devido ao avanço do novo corona vírus. “A gente tinha um calendário com os filmes já selecionados e a gente teve que interromper. E, agora, recente eles me procuraram pra que a gente fizesse uma continuidade desse cinema de forma online”.
O debate será mediado pelos professores Julio Bezerra e Vitor Zan do curso de Audiovisual da UFMS e na primeira sessão já contará com a participação dos diretores do filme Guto Parente e Pedro Diógenes. A ideia é que sempre haja uma participação. “Estamos convidando os diretores ou membros das equipes para participarem da discussão. A nossa primeira sessão será agora dia 23”, explica Bezerra, que também é um dos organizadores da mostra que poderá ocorrer toda quarta-feira, uma vez por mês.
Fiel à sua missão de preservar e educar para o futuro, o MIS segue oferecendo à comunidade uma programação diversificada que compreende palestras, oficinas, cursos, seminários, mostras de cinema e exposições. “O MIS é uma unidade da FCMS que tem um papel importante na difusão e formação a partir do cinema, então contribuímos e colaboramos para que ações como essa sejam efetivadas e alcance o maior público possível. ”, destaca Pinheiro, revelando a importância do Museu da Imagem e Som na integração entre cinema e a sociedade nesta nova parceria.
Com um ano de existência, o curso de audiovisual da UFMS tem investido em projetos de extensão, como o Cineclube, no sentido de beneficiar a formação cinematográfica dos acadêmicos e despertar o interesse de pessoas de fora para o curso. Nas palavras de Bezerra, a parceria com o MIS do Ciclo de Cinema Brasileiro Contemporâneo se iniciou a partir de um incômodo. “Os nossos alunos não têm contato com o que de melhor o nosso cinema tem feito hoje. Os filmes não chegam por aqui. E, na minha opinião, é da maior importância que eles tenham esse acesso ao que é contemporâneo a eles”, explica o professor.
Para Marinete, a Mostra de Cinema Brasileiro Contemporâneo Online é um ponto positivo que permitirá uma formação de público local para o cinema nacional. “Acessar o cinema que está sendo produzido no Brasil, no momento, é uma necessidade para a construção fílmica local e um processo fundamental para os estudantes, por isso a proposição por parte dos professores do Curso de Audiovisual da UFMS”.
Segundo Bezerra, o projeto promove e incentiva o debate sobre os filmes do cinema nacional que vive um momento particularmente rico. A representatividade e a emersão de produções de fora do eixo Rio-São Paulo, resultam numa variedade de proposições estéticas e linguagem que, apesar disso, não chegam ao Estado. “São raros aqueles que ganham o mercado exibidor de MS, portanto, iniciativas como esta são oportunidades importantes para os cinéfilos de maneira geral”, concluí.
Zan destaca que na última década houve uma descentralização do eixo Rio-São Paulo que monopolizava a produção cinematográfica para um sistema poli nuclear, resultando em maior diversidade representativa do cinema brasileiro. Essa mudança teria permitido o surgimento de novos centros de criação cinematográfica no país em Belo Horizonte (MG), Brasília e Fortaleza (CE), por exemplo. “Nos últimos doze anos a gente tem uma produção do cinema brasileiro muito instigante, muito cheia de revelações dos novos talentos mesmos, novas perspectivas artísticas, e tudo mais. ”, afirma o professor.
Pensando neste panorama, a mostra pretende trazer os filmes que apresentam maior inventividade e propostas estéticas que tiveram um certo impacto na classe cinematográfica, na crítica em festivais, mas que também sejam atrativos para o público. “A gente não negligencia esse lado da dimensão pessoal, mesmo, de um espectador e tentando apontar para uma direção de qualidade de gênero, enfim, pensando até nossas escolhas nesses termos”, conclui, Zan.
A intenção é propor uma análise técnica das obras dentro de uma linguagem acessível para a sociedade, por isso os professores consideram o debate um desafio necessário. Para Zan, uma das estratégias para deixar o debate mais acessível e democrático é a presença de convidados fora do meio acadêmico. “Os diretores do filme, por exemplo, eles não são acadêmicos, eles não correm esse risco do academicismo”, afirma.
Acadêmica de pós em gestão de projetos culturais pela USP, Alyadna Freitas considera a iniciativa enriquecedora para a formação de um público crítico do cinema brasileiro. “Acho incrível esse tipo de evento para os estudantes de audiovisual. É muito importante compreender as obras que assistimos e esses eventos e debates são bem positivos para a construção do pensamento crítico necessário para se analisar uma obra audiovisual e para o contato com gêneros diferentes. ”, defende.
Para Zan, o debate acerca das obras cinematográficas da mostra são uma maneira de inserir o público sul-mato-grossense no processo nacional de produção de cinema contemporâneo por meio da análise da interpretação, da montagem, da iluminação, do figurino e da curva dramática do filme. “Eu acredito que seja situar o público daqui e permitir que ele consiga vislumbrar uma constelação do cinema brasileiro dos últimos anos, então para isso a gente também tem o esforço de mergulhar na especificidade da obra e também situar ela num conjunto”, afirma.
Na estreia será exibido Inferninho (2019), de Pedro Diógenes e Guto Parente, que une as linguagens do Teatro e do Cinema. O filme traz a história de Deusimar, a dona do Inferninho, um bar que é mais um refúgio, um lugar onde os personagens podem ser eles mesmos. Deusimar, entretanto, quer ir embora para um lugar distante. Jarbas, um marinheiro que acaba de chegar, deseja ficar. Um amor começa a nascer entre os dois capaz de mudar tudo.
Segundo Zan, a escolha do filme tem a ver com seus traços representativos de um fenômeno mais amplo do sistema brasileiro de produção cinematográfica. Neste cenário, Inferninho aparece como uma produção que dialoga com o brega, e vai buscar justamente nas cores exacerbadas, grandes saturações que conversam com uma tradição do cinema homossexual, dando margem ao amplo debate programado para essa quarta-feira, 23, à partir das 19 horas com a presença do professor de audiovisual da UFMS, Júlio Bezerra e os diretores do filme, Guto Parente e Pedro Diógenes.
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Texto: Giovanni Dorival
Foto: Divulgação (Imagem do filme)