Campo Grande (MS) – Profissionais de diversas áreas artísticas compuseram a mesa de discussões “Cultura, arte e questões sociais nas poéticas artísticas”, do 1º Seminário Estadual de Cultura e Educação, no último sábado (6 de agosto), na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).Compartilharam suas experiências no campo da cultura o músico Eduardo Martinelli, a artista plástica Priscila Pessoa, o diretor de teatro Fernando Cruz, a bailarina Cristiane Araújo e a professora Marlei Sigrist que explanou sobre folclore e cultura popular.
Eduardo Martinelli fez uma reflexão acerca dos projetos culturais na área de música os quais foi idealizador, executados em Campo Grande. Depois de 10 anos de experiência com alunos de diversos perfis, ele acredita que o resultado deste projetos vão muito além de fazer o aluno tocar um instrumento. “Eu Leo em conta toda a conquista do aluno no contexto do seu dia-a-dia. A música passou a fazer parte da vida daqueles alunos de fato, pois eles passaram a ter o hábito de tocar independentemente da perspectiva de se tornar um profissional. Os projetos mudaram a rotina da cidade, pois as pessoas que de alguma forma participaram dele, passaram a se disponibilizar para ver o outro tocar”, afirmou. Segundo ele, a música não tem que provar nada para ninguém. Todos os estilos podem coexistir sendo encarados como uma ferramenta de expressão. “Não é porque a gente acredita que algo tenha mais valor é que temos impor ao outro. É natural que para algumas coisas é necessário se ter mais preparo. O importante é proporcionar o fazer musical. Temos visto que a música foi chegando como ela não chega nos meios de comunicação de massa”, defendeu.
“A arte lida todo o tempo com aquilo eu é humano, e só por esse fato, ela já é uma questão social”, introduziu a artista plástica Priscila Pessoa. Ela defendeu a idéia da abordagem crítica nas artes visuais. “O poder de questionamento da obre de arte vai além da sua leitura. Seus temas devem ser urgentes, a arte deve remeter ao aqui e agora e refletir o seu momento. Além disso, a obra deve ser relacionada com o contexto social e não somente com a visão do artista”, destacou. A professora lembrou ainda que as mazelas sociais são construções muito antigas e as artes visuais sempre contaram as histórias das sociedade. “Por isso, o artista, para ser crítico precisa estar muito atento a seu tempo, para abrir a discussão, abrir o pensamento”, refletiu.
Para a bailarina Cristiane Araújo, a dança é aquisição de conhecimento, uma expressão do ser humano que traz muitas possibilidades. Ela argumentou que a dança deve ser fomentadora de experiências significativas, estimulando assim a descoberta pessoal. Ela não deve priorizar a execução de movimentos ou textos corretos. “Que a dança não seja feita apenas para entreter e sim promova a reflexão e seja objeto de pesquisa”,alegou.
O folclore, na perspectiva da professora Marley Sigrist, deve ser trabalhado coletivamente com mas crianças para que elas se apropriem da cultura popular. “Desta forma eles aprendem como se organizar. O professor tem que ter paixão pelo que faz, senão as crianças percebem logo que ele não gosta”, afirmou. Segundo ela, o folclore é feito nas comunidades e está inserido no cotidiano das pessoas. Ele é encontrado especialmente nas brincadeiras. “Existem inúmeros jogos que podem serem utilizados nas escolas para apresentarmos o folclore para as crianças. Sondando podemos encontrar coisas interessantes”, lembrou.
A arte de rua foi a voz do teatrólogo Fernando Cruz. Em alto e bom som ele assumiu que não consegue desvincular a arte das questões sociais. “Tudo é educação, tudo é política e a arte é política”, defendeu. Para ele o ator atua a partir de suas vivências e tem eu saber o seu lugar no mundo. Ele explicou que o processo da arte de rua é o protagonismo social. O professor tem que saber onde está o seu protagonismo e como vai ensinar o aluno a protagonizar. “É na alteridade que a arte acontece e a cultura se manifesta no corpo vivo. É o dar e receber e gerar novas questões”, ponderou.
O ator defendeu ainda que é necessário que se uestione o espaço da escola porque a formação pronta afasta os alunos da sua identidade. “É preciso começar a perceber o entorno da escola, pois os muros são os limites representados pela hierarquia e burocracia. Estes muros impedem o desdobramento de todos os saberes de modo prático. Perdemos o contato conosco e com o mundo. O professor tem que vivenciar suas poéticas pessoais. Olhar o outro é fundamental para se olhar e compreende o meu território”, finalizou.
Após o ciclo de debates, os participantes do evento confraternizaram no Sarau cultural que aconteceu no SECS Morada dos Bais. Lá eles apreciaram o espetáculo Tekoha – Ritual de vida e morte do Deus Pequeno, do grupo de Teatro Imaginário Maracangalha, performances do poeta sul-mato-grossense Emmanuel Marinho e o samba do grupo campo-grandense Sampri.
Fotos: Edemir Rodrigues