Como forma de representar a identidade fronteiriça de Ponta Porã, cidade que faz divisa com o Paraguai, a artista e professora Angela Silva pintou um mural de 166 metros quadrados no campus do IFMS (Instituto Federal de Mato Grosso do Sul), de Ponta Porã. A obra, intitulada Entrelinhas, foi iniciada em março e deve ser finalizada ainda nesta semana. Seu lançamento será na última semana do mês de junho.
Entrelinhas foi contemplado pelo FIC (Fundo de Investimentos Culturais), promovido pela FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), por meio da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Trabalho artístico que conta com o apoio da UFMS.
O grandioso desenho tornou- se peça central da paisagem da instituição, podendo ser visto até por quem chega ou sai da cidade pela BR-463. Por meio de cores vibrantes e traços meticulosos, o mural captura a essência da vida cotidiana, as tradições, a cultura e a diversidade da região.
A obra começou a ser concebida há três anos, após uma experiência da artista com o muralismo mexicano. Em 2020, ela participou de um evento de muralismo na Cidade do México e em 2021 esteve no Equador, onde se dedicou exclusivamente à pintura por 10 meses. Essas vivências aguçaram sua narrativa, levando-a a compreender que a arte é uma possibilidade válida de estudo e profissionalização.
“O entendimento de que um mural é uma forma de contar uma história com imagens, registrar percepções com elementos visuais, quase como a estabelecer uma conversa coletiva entre os universos internos da pessoa que faz arte e das pessoas que entram em contato com a obra produzida, são alguns conceitos que trago da experiência em 2020 que despertavam a vontade de produzir um mural com essa temática”, explica a artista plástica.
O desenho traz elementos de imagens que se relacionam simbolicamente com respostas encontradas durante a etapa de investigação, que foi feita no fim de 2022. Esta etapa consistiu em um questionário respondido por pessoas da comunidade e, também, por cinco pessoas com perfis distintos e destacada atuação no setor cultural da fronteira que foram entrevistadas.
“Vivo em Ponta Porã desde 2005 e percebo diversas peculiaridades presentes na forma de se relacionar com o espaço e com as pessoas. É bastante comum a fala de que há uma identidade de fronteira, mas para mim essa identidade sempre foi um mistério. Algo invisível, que sabemos a presença ainda que o olhar e as palavras não deem conta de alcançar. A suspeita de que com elementos de imagem poderia ampliar, por meio dessa conversa que um mural pode promover, a percepção dessa presença invisível que nos faz únicos enquanto comunidade que transita entre nações me levou a construir a proposta do projeto”, conta Angela.