Corumbá (MS) – No Festival América do Sul Pantanal o Quebra-Torto ganha nuances literárias ao trazer, para este momento de compartilhamento, a presença de escritores das diversas regiões latino-americanas para apresentarem suas obras e protagonizar debates e reflexões acerca de temas da atualidade. Na manhã desta sexta-feira (27.05), durante o 16º Fasp, foi a vez de Ana Maria Shua (Argentina), Maria Valéria Rezende (Paraíba) e Tânia Souza (MS) revelarem um pouco da natureza humana latino-americana. A mediação ficou a cargo da professora doutora Rosana Cristina Zanelatto Santos.
Mas antes de tudo começar, a coordenadora da área de Literatura da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Melly Sena, direcionou um agradecimento a toda a equipe da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, ao curador do quebra-torto este ano, o professor André Rezende Benatti, ao Moinho Cultural, na pessoa da Márcia Rolon e do Beto “que são as pessoas que nos acolhem aqui há 16 anos, o Quebra-Torto tem como casa o Moinho”, à Prefeitura de Corumbá e à Fundação de Cultura de Corumbá. “Só temos a agradecer porque nós temos hoje e a manhã de sábado. Que seja muito proveitosa e que possamos aprender com esses convidados especiais que estão com a gente”.
Sonia Rolon, da Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul, falou um pouco sobre o fim da pandemia e a retomada dos eventos culturais. “É um prazer muito grande estar aqui novamente neste local, acabou aquilo que estava nos pressionando o peito, aquilo que nós sentimos tanta falta, o encontro de quem gosta de palavras, de lindas palavras, o encontro de palavras eu se cruzam formando versos, poesias, poemas, amor, tudo que transmite esse encontro de palavras. Eu estou aqui trazendo um grande abraço de mulheres da Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul”.
O diretor-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, Joilson da Silva Cruz, estava muito emocionado: “participar deste momento onde os sabores nos inspiram e a poesia nos alimenta, a literatura nos alimenta, essa casa que respira cultura, arte, é muito prazeroso esse momento. Estou emocionado de estar nesta casa que é única e a importância que tem pro nosso município, pro nosso Estado e para o nosso País. Um bom evento para todos nós”.
O deputado estadual Paulo Duarte esteve presente no evento e lembrou que o governador Reinaldo Azambuja esteve no dia anterior visitando o Moinho Cultural. “Eu só queria dizer que ontem esse espaço aqui, o Moinho Cultural, viveu um momento histórico. O governador e a Fátima, sua esposa, ficaram encantados com esse espaço e ontem, pela primeira vez, o Moinho, que completa sua maioridade, faz 18 anos esse ano, pela primeira vez o governador do Estado em exercício veio conhecer esse espaço. Ele fez um convênio investindo não só na arte e na cultura, mas na inclusão social. Porque o Moinho tem esse diferencial, além de respirar arte, cultura, ele é um projeto social. Ontem com certeza foi um dia histórico para Corumbá e para quem gosta, para quem respira arte e cultura”.
A deputada estadual Mara Caseiro, relembrou sua gestão à frente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul: “É um prazer estar aqui neste 16º Festival América do Sul Pantanal. É muito gostoso a gente sentir a energia. Ontem naquele palco foi uma sinergia tão maravilhosa que eu me senti no quintal da minha casa. Eu estive à frente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, com esta equipe, no último festival e foi um prazer tão grande poder saber coisas que eu não conhecia, aprender sobre a cultura sul-mato-grossense. Eu saí da Fundação de Cultura com um certo aperto no coração, porque a gente tinha tanta coisa pra fazer, a gente tinha tantos projetos para 2020, e aí veio a pandemia e nos tirou sonhos. Nós tivemos que adiar os nossos sonhos. E hoje a gente vê a retomada desse grande Festival, a retomada da nossa vida. Poder respirar cultura aqui em Corumbá porque aqui é um lugar diferenciado. Parabéns Corumbá”.
Finalizando a fala das autoridades, o secretário adjunto de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, falou em nome do Governo do Estado e externou a alegria de as pessoas poderem estar se reencontrando neste 16º Festival, “que envolve arte, cultura, cidadania, troca de experiências”. “A gente aproveita o Festival para aqueles grandes shows, grandes encontros, as grandes apresentações, mas principalmente para ter troca de experiências, trocas de conhecimentos, e para fazer o que a gente mais gosta de fazer: mostrar as nossas identidades, a nossa história e a nossa cultura. Cumprimento a todos que se dedicam a fazer a literatura, a escrita local, porque são nesses registros, nessas memórias que nós mantemos vivo e viva as nossas histórias e o nosso conhecimento. Que a gente tenha um bom encontro e possa aproveitar esse Quebra-Torto com Letras”.
A curadoria do Quebra-Torto este ano é do professor doutor Andre Rezende Benatti. Ele salienta a importância do Quebra-Torto dentro da programação do Fasp como uma forma de criar um espaço de discussão do texto literário em si e do fazer literário. “Eu acho que esse espaço ele congrega, em alguma medida, diversas perspectivas, a partir, claro, da escolha da curadoria, que a gente pode ter do próprio ser humano sendo debatidas no festival, dentro do Quebra-Torto. Não que a gente não perceba a presença da literatura em outros momentos do Festival, porque se a gente pegar numa perspectiva da narratividade, você vai ter literatura no teatro, você vai ter narratividades na música, na performance, diversos tipos de narratividades. Mas o espaço do Quebra-Torto é diferenciado, porque ele vai privilegiar esse texto em si e as diferenciações dos seres humanos ali representados dentro do texto literário, que é narrativo, mas é poético também, e diverso”.
Janete Fátima Pará Velasco, coordenadora pedagógica da escola Caique Padre Ernesto Sassida, levou os alunos do oitavo ano da escola para participar do Quebra-Torto por se tratar de “um evento importante para que os alunos conheçam e participem. O Quebra-Torto é um momento para eles conhecerem outros escritores, terem contato com a cultura de Corumbá, e eles têm essa oportunidade de conhecer o trabalho dos escritores da região e de outros países”.
Janete (esq.), Marilena (dir.)
A professora de apoio da Educação Especial Marilena Oliveira da Silva, também da Escola Caique Padre Ernesto Sassida espera que eles levem para sua vida a aprendizagem e cultura. “Isso faz parte da cultura de Corumbá, eles vão viver na vida deles. Não apenas a partir de hoje, não sei se eles tiveram conhecimento disso por causa da pandemia, eles estão no oitavo ano, então acho que isso eles vão levar pra vida, essa coisa da cultura. Espero que possamos semear neles esse entendimento e essa vontade de participar sempre”.
Daniel Victor Vasques, aluno do oitavo ano da mesma escola, disse que gostou quando a escritora falou sobre os livros que ela fez, que ela escreve, como foi tudo o que ela fez durante um tempo. “Estou gostando de ouvir tudo o que eles falam sobre a cultura brasileira, sobre tudo. Eu gosto muito de escrever, quando estou sozinho escrevo poemas. Eu gostei da escritora Tânia Souza porque ela falou da história dela, sobre a vida dela”.
Sua colega Luma Khiara Vargas ficou feliz pela sua escola ter sido convidada para participar. “Eu achei que ia ser interessante, foi a primeira vez que eu vim, e eu estou achando muito legal conhecer escritores de outros países, é muito legal a atividade. Eu escrevo pouco, mas gosto mais de ler. Gostei da escritora da Argentina e da escritora da Paraíba, achei interessante as histórias delas”.
O Quebra-torto é o mais típico café da manhã pantaneiro, servido nas fazendas do Mato Grosso do Sul antes da lida no campo. É composto por ingredientes que seriam mais comuns em um almoço bem-servido. Conhecido em todo território sul-mato-grossense a composição é sempre rica e saborosa.
Jonirce (esq.), Lidia (dir.)
Lidia Aguilar Leite é coordenadora da comida do Quebra-Torto desde o primeiro Festival. “Eu tenho uma equipe que trabalha comigo desde o primeiro Festival. Algumas pessoas vêm de Campo Grande para poder trabalhar com a gente. Eu coordenava a gastronomia do Moinho Cultural e elas trabalhavam comigo. Elas já fazem parte da minha família. Como chama Quebra-Torto com Letras, é bom para divulgar a nossa cultura, o que é que nós comemos no quebra-torto. Então por exemplo hoje vai ser o carreteiro, amanhã vai ser macarrão de comitiva, então cada dia a gente coloca alguma coisa. E aí nós fazemos o bolo de fubá com goiabada, a gente serve o mate queimado, então tudo isso faz parte da nossa cultura. E fazemos o feijão pantaneiro, que vem com aquele ossobuco, com linguiça, então é um feijão bem nosso mesmo, que o pantaneiro come para ficar bem forte”.
Jonirce Assunção de Jesus é uma das cozinheiras que fazem parte da equipe desde o primeiro Quebra-Torto com Letras no Fasp. Ela trabalha em casa, mas quando tem evento em Corumbá a chamam para fazer a comida porque todos falam que a comida dela é gostosa. “Sempre que tem o Festival a gente vem aqui e faz. O quebra-torto tem o arroz carreteiro, bolinho de chuva, chá de mate queimado, a paçoca de carne seca, farofa de banana. Eu gosto de fazer a comida, gosto de ver as pessoas comerem. Eu me sinto muito feliz, porque eu faço as coisas com amor”.
Depois de discutir a literatura da América do Sul, as pessoas presentes puderam saborear essas deliciosas iguarias da nossa região feitas com muito carinho. O quebra-torto acontece também no sábado (28), às 8 horas, no Moinho Cultural Sul-Americano. Para participar, tem que chegar bem cedinho, pois serão disponibilizados somente 200 ingressos para entrada por ordem de chegada. No dia 28, falam sobre a estética da palavra latino-americana os escritores Carla Maliandi, Santiago Nazarian e Marcia Medeiros, com mediação de Wellington Furtado.
Fotos: Muriel Xavier