Campo Grande (MS) – Neste segundo dia de ações da Semana Estadual dos Povos Indígenas, em Campo Grande, foi realizada a plenária para debater o Plano Setorial do Estado para os Povos Indígenas. O dia foi iniciado às 8 horas, no saguão do Memorial da Cultura e da Cidadania, com exposição de arte indígena. Às 8h30 foi realizada reza tradicional abençoando as atividades.
No início dos trabalhos, no Museu da Imagem e do Som, no Memorial da Cultura, às 9 horas, foi exibido o filme “Flor brilhante e as cicatrizes na pedra”, da diretora Jade Rainho. O filme retrata a história da matriarca de uma família de rezadores Guarani-Kaiowá que vive na reserva de Dourados-MS. Nesta região, os índios tentam sobreviver preservando hábitos da cultura dos antigos, enquanto convivem com os efeitos causados pelas explosões de uma usina de asfalto, que dinamita e explora uma pedra sagrada no território da aldeia há mais de 40 anos.
Logo depois foi formada a mesa para a plenária para debater o Plano Setorial Estadual para os Povos Indígenas, composta pela subsecretária de Cultura, Turismo, Empreendedorismo e Inovação, Andréa Freire; pela subsecretária de Políticas Públicas para as Populações Indígenas, Silvana Terena; pela presidente do Movimento de Acadêmicos Indígenas da UEMS, de Dourados, Tatiane Martins Gomes, da etnia Kaiwá, e pelo representante da aldeia Jaguapiru, cacique Getúlio.
A subsecretária da Sectei iniciou os trabalhos dizendo que o objetivo da reunião é iniciar um diálogo na tentativa de institucionalizar questões indígenas. “É a primeira vez no Estado que se pretende criar um Plano Estadual Indígena. Temos o material do Plano Setorial Indígena do Brasil, do Ministério da Cultura, em que 270 povos deram seus depoimentos. Embasado neste material poderemos nos orientar sobre como poder desenvolver o Plano Estadual. A ideia é valorizar e promover a cultura indígena, para atender suas necessidades e entender seus problemas”.
Andréa disse que o governo pretende estreitar o diálogo com os índios e criar ações que possam efetivamente acontecer. “Índio e não índio: somos todos a mesma sociedade. O governo procura uma relação mais estreita com os movimentos sociais.”
A subsecretária explica que o plano é embasado em três eixos: respeito à identidade e à memória; cultura e sustentabilidade dos povos indígenas e gestão e participação social, pois, segundo ela, a autonomia e o protagonismo dos povos indígenas é o que dá sentido ao plano. “Daqui nasce a semente para começar o diálogo e a partir de hoje várias localidades do Estado, em suas nove etnias, vão sair com um grupo de trabalho que vai coordenar o processo de ouvidoria das necessidades e demandas dos indígenas”.
Andréa Freire também sinalizou a intenção do governo de criar o Festival das Culturas Indígenas de Mato Grosso do Sul, para o ano que vem. Para isso, afirmou ser necessário ouvir os indígenas para saber o que seria importante para a realização deste festival.
A subsecretária de Políticas Públicas para as Populações Indígenas, Silvana Terena, enfatizou a importância da cultura para direcionar as ações indígenas. “Tudo parte da cultura, por isso nós escolhemos a Secretaria de Cultura para trabalhar. Nós sabíamos o que queríamos mas não sabíamos como fazer. Agradeço à equipe da Sectei pelo amor e sensibilidade à nossa causa. Estamos percorrendo as aldeias para saber quais as demandas dos cerca de 74 mil indígenas no Estado. Queremos sair desta reunião com uma comissão organizada com todas as etnias do Estado representadas”.
O representante da aldeia Jaguapiru, cacique Getúlio, fez um apelo aos mais jovens para que daqui a algum tempo possam ver em filmes retratados o sofrimento do seu povo. “São 60 mil Guarani-Kaiwá no Estado e nós temos muita força. Sempre eu choro muito pelo meu povo e por nossas lideranças castigadas. A Justiça não nos dá apoio, mas hoje temos o apoio do governo. Hoje, trabalhando com o governo, esperamos lidar com os problemas que enfrentamos, como o suicídio, desnutrição e morte de jovens envolvidos em brigas. O jovem precisa crescer melhor, trabalhar. Precisamos levar conselhos para eles para terem vida nova”.
A presidente do Movimento de Acadêmicos Indígenas da UEMS, de Dourados, Tatiane Martins Gomes, da etnia Kaiwá, é formada em Turismo e Serviço Social pela UEMS de Dourados e avalia com a comunidade a possibilidade de esta receber turistas. “Para isso seria necessário fortalecer o tripé ambiental, social e econômico para desenvolver o turismo, com visitação nas aldeias, vendas e contação de histórias. O turismo é multidisciplinar, precisaria haver uma política de Estado em sintonia com os povos indígenas. Por isso precisamos do diálogo”.
Tatiane fala também sobre a importância do estudo, formação e aquisição de conhecimento como forma de empoderamento. “Nós vamos ser protagonistas da nossa história dentro do Estado de Mato Grosso do Sul. Desta forma a juventude pode levar a transformação nas comunidades, com a inclusão de mídias, projetando curtas, mostrando a realidade”.
Ao final dos trabalhos a subsecretária da Sectei, Andréa Freire, entregou duas cópias de parte do Plano Setorial Nacional, uma para o cacique Getúlio e outra para a presidente do Movimento de Acadêmicos Indígenas da UEMS, Tatiane Martins Gomes, e se comprometeu em enviar o mesmo documento para os demais interessados por e-mail.
Os presentes formaram grupos de trabalho para selecionar as demandas ao Plano Setorial Estadual para os Povos Indígenas e, posteriormente, serão eleitos representantes para dialogar diretamente com as comunidades sobre as necessidades da população indígena para a elaboração do plano.
Fotos: Daniel Reino