Campo Grande (MS) – A tarde deste sábado, no Memorial da Cultura e da Cidadania, foi a mais alta expressão do que é a diversidade cultural. O V Seminário Cultura e Educação – Mesa “Culturas, emancipação social e decolonialidades na América Latina”, que aconteceu como programação do Festival Campão Cultural – 1º Festival de Arte, Diversidade e Cidadania, deu voz às diversas formas plurais de existência e manifestações culturais que convivem hoje na sociedade.
O evento teve início com o lançamento do livro “Poéticas de um tempo pandêmico: trajetórias, possibilidades e experiências no ensino de Arte”, que contém as experiências dos professores de arte da Escola Municipal Professora Ana Lúcia de Oliveira Batista falando sobre os desafios de se dar aulas de arte durante a pandemia.
O livro, organizado pelo coordenador pedagógico da escola, Fernando Freitas dos Santos, e com autoria de Douglas Marschnner, Evellyn Carvalho, Fernando Freitas, Jimmy Helton e Natália Dias, apresenta diferentes estratégias pedagógicas vivenciadas pelos professores e os desafios de lecionar em contexto de isolamento social.
“Nossa maior preocupação era possibilitar pilares de reflexão e criação em arte para crianças de quatro a 11 anos, muitas não alfabetizadas, e algumas com pais não alfabetizados. Foi algo muito novo para nós, e a importância de registrar esta experiência em livro é rememorar o processo, ressignificar e aprender com ele. A gente se preocupa com uma formação em arte potente e crítica, e para nós, professores, foi um processo de aprendizado também, e queremos com o livro, divulgar este trabalho e levar um pouco do nosso Estado para o Brasil”, diz o organizador do livro, Fernando Freitas.
Para quem quiser conhecer o trabalho, o livro está disponibilizado gratuitamente no site: www.atenaeditora.com.br
Logo depois, foi iniciada uma roda de conversa em que houve recitação de poesias e encenações por Tom Grito, do Rio de Janeiro, uma palestra online com Casé Angatu, de São Paulo, a participação presencial de Clarissa Suzuki, de São Paulo, e durante todo o evento o artista Thiago Salles fez uma produção artística ao vivo em desenho e pintura.
“Colonização é tudo o que impõe uma cultura sobre a outra. Como se existisse um grupo que fosse melhor que o outro. A sociedade impõe a colonialidade de uma forma tão bruta, violenta, que o lugar do privilégio afasta esse pensamento de quem eu sou. Quando a gente precisa pensar sobre quem é, é quando estamos sofrendo violência, como os negros, as pessoas indígenas, como se fossem não civilizados, como se não tivessem sua própria cultura”, diz Tom Grito.
O gerente de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Caciano Lima, reforça que a importância do evento é “dar visibilidade aos vários atores culturais. É preciso quebrar o paradigma colônia. Como quebrar? Inserindo toda a diversidade cultural existente entre os povos que formam a América Latina. E a decolonialidade pressupõe ação. Este evento, a tarde deste sábado, é uma ação prática que coloca a vasta e densa diversidade no centro das discussões”.
Clarissa Suzuki completa: “a importância que reside nesta ação de hoje é a emancipação social, é exercitar essa diversidade, é uma perspectiva de mundo que vem das vozes que não são consideradas. Este Festival está dando um exemplo, principalmente por ser política pública”.
Para o secretário adjunto de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, que participou ativamente da roda de conversa, o evento é a essência do Campão, “por trazer temas para reflexão buscando gerar mudanças de comportamento, mostrar como a sociedade é. Não podemos pensar que só existe um tipo de ser humano. Diversidade é isso”.
Tom Grito, que participou com suas belas e profundas poesias, afirmou estar muito feliz com o Festival, “que trabalha temas diversos e respeita os convidados de forma carinhosa. Agradeço a oportunidade de trocar poesia e afeto com pessoas maravilhosas”.
A final do evento, o artista Thiago Salles mostrou o resultado do seu trabalho: um desenho criado em cima de rabiscos coloridos: “Eu dou cor e vida a esses rabiscos. Para mim, representam o fato de que, independentemente do ser, a forma que ele existe, ele não foge da sua personalidade, ele segue sua essência, preservando sua essência natural”.
Fotos: Daniel Reino