Campo Grande (MS) – A noite desta quarta-feira (24.03.2022) foi de muita emoção para artistas, servidores do Museu de Arte Contemporânea e para o público, que estava com saudades de visitar o museu, reaberto ao público depois de dois anos fechado por conta da pandemia e de uma reforma.
“É com muita emoção que a gente retoma a abertura do museu. Foram dois anos de muita angústia, buscando formas de sobreviver neste espaço de outras maneiras. Como faz falta o museu em nossas vidas. Este prédio faz 20 anos este ano, foi construído especificamente para o museu. A qualidade deste espaço que nós temos aqui e podemos apresentar para os artistas. Fomos nos reinventando, com propostas online. Agradeço muito à Fundação de Cultura e, principalmente à minha equipe. O MARCO é um equipamento cultural de Mato Grosso do Sul, merece um pouco mais de carinho”, afirmou a coordenadora do Museu, Lúcia Monte Serrat.
Caciano Lima, gerente de Patrimônio Histórico e Cultural da Fundação de Cultura, falou em nome do diretor-presidente da FCMS: “O museu ficou fechado um bom tempo, sofremos muito com isso. As meninas [servidoras] estão aqui lutando, nós passamos por momentos muito difíceis, mas a gente não desiste nunca. Vamos retomar as visitas. É necessário ter muita união neste momento. A gestão pública é muito difícil e o Marco fez o que poderia fazer neste momento. A noite é de vocês, do público, dos artistas”.
A artista Patrícia Pontes falou em nome de todos os artistas participantes da 1ª Temporada de Exposições: Estou muito honrada de estar aqui. Nós todos, artistas, nos sentimos durante esta pandemia como se não pudéssemos nos expressar. O museu possibilita a expressão dos artistas. A gente morre um pouco sem isso. A reabertura é um símbolo que a gente vai poder voltar e se expressar, tudo vai voltar a fazer sentido de novo”.
Após um singelo show musical, o público pôde visitar as salas com as obras de arte. Presente na reabertura do museu, a artista Mariana Arndt, que está com a exposição intitulada “Portunhol Selvagens Feministas”, de fotografias e instalações, disse que se inspirou no poeta Douglas Diegues, que mistura guarani, espanhol e português. “Quando fui morar em Ponta Porã observei que existia uma violência contra a mulher muito grande, existe a questão da impunidade, por ser uma fronteira seca as pessoas fogem para outro lado da fronteira. Compilei notícias de violência contra a mulher. Tem uma que me chocou muito, mãe e filha que trabalhavam num supermercado e foram mortas lá pelo marido e pai, porque não aceitava o fim do relacionamento com a mãe. As frases dos poemas na exposição conversam com as fotos. Mostro toda a expressividade da mulher fronteiriça”.
Para Mariana, está sendo bem bacana participar da 1ª Temporada de Exposições neste momento de reabertura do MARCO. “Principalmente por ser março, mês das mulheres, causa uma reflexão muito grande com relação à violência contra a mulher. Reencontrar o público devido à vacina é uma possibilidade que a ciência nos trouxe. É muito importante estar falando sobre essas mulheres no momento de hoje, em que temos um governo misógino”.
A artista paulistana Patrícia Pontes apresenta a sua exposição “Varais”: “Eu abordo a questão do vento que bate nas roupas e da liberdade, quando a gente acha que está livre, tento explorar essa leveza e a gente querer se libertar da mesmice. Trabalho com a repetição, repetir imagens sobrepostas na fotografia, criar várias camadas de transparência e tento sobrepor as imagens das fotos. A minha formação é de artista visual, mas continuei com a carreira de professora de francês. Aí comecei a ir para fotos e depois fui para algo mais lírico e mais leve. Acho que eu nunca consegui viver daquilo que eu queria, a fotografia artística, hoje tiro fotos gastronômicas e de esporte”.
Patrícia afirma que, para ela, a arte é sentimento, é uma expressão interna. “Na minha primeira exposição eu usei uma frase de Nietzsche que dizia que precisamos de caos e frenesi para produzir nossa estrela dançante. A arte propicia sua expressão, que é interna. É um sentimento para mim. Amo fazer isso, dá sentido à vida. A pandemia fez com que eu ficasse reclusa, e eu não sou uma pessoa reclusa. Também é um pouco a questão do medo. Deu tudo certo, tudo começou a dar certo. Quando você vê todos os quadros na parede, tudo ganha sentido. Era aqui que eu tinha que estar, e na hora certa”.
Maria Chiang, Miguel Benavides, Julian Vargas e Poppy Carpio apresentam ao público a exposição “Entre Territórios”, com várias linguagens artísticas, como pintura, desenho, fotografia, colagem e arte digital. Para os artistas, é muito importante fazer parte deste momento de reabertura do Museu de Arte Contemporânea. “Achamos bem interessante mais pelo fato de ser um espaço cultural da cidade, é um ponto que se abriu para a cultura da cidade, é uma oportunidade de retomar atividades que foram pausadas”.
A artista Arlete Santarosa não esteve presente na abertura da exposição. Ela traz ao público gravuras que são uma verdadeira construção física e mental, fruto de demorada reflexão e conhecimento profundo da matéria. Ao ter a oportunidade de expor no MARCO, trouxe obras em preto e branco e coloridas de diferentes fases da sua carreira de mais de 30 anos, selecionando entre outras, as séries: “Releituras de Dürer”; “Cenas da Cidade” e interpretação do livro “O Pequeno Príncipe” de Saint Exupéry.
A 1ª Temporada de Exposições do MARCO fica aberta ao público até o dia 05 de junho de 2022. Mais informações e agendamento com escolas para a realização de visitas mediadas com as arte-educadoras do Programa Educativo no telefone (67) 3326-7449. O Museu de Arte Contemporânea fica na Rua Antônio Maria Coelho, nº 6000, no Parque das Nações Indígenas.
Fotos: Ricardo Gomes