De acordo com painelistas, a troca fortalece e enriquece a produção artística local
O painel “Países irmãos? Mercado da Música em MS e Conexão Guarani”, realizado nesta sexta-feira (28), reuniu produtores artísticos para debater a importância do intercâmbio cultural do Mato Grosso do Sul com os países fronteiriços, como Paraguai e Bolívia, e até a Argentina, pela proximidade geográfica.
O produtor cultural Afonso Ramão Rodrigues Jr. começou a entender a força dessa troca em 2012, quando se mudou para Bonito (MS), começou a trabalhar com hotelaria e turismo e a pensar em projetos de cultura para a cidade. A distância dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, lhe impuseram uma dificuldade logística pa,ra a qual encontrou nos artistas dos estados da região sul do país e dos vizinhos Paraguai, Bolívia e Argentina, a solução.
“Nós começamos a movimentar a cena de Blues em Bonito, um estilo musical universal, todos os países têm alguma representatividade, alguma banda, algum conjunto. Entre trazer artistas de cidades que ficam a 1.200 km daqui, o que acarreta em mais tempo, mais recursos, começamos a pensar em artistas que estivessem mais próximos. Para cruzar a fronteira com o Paraguai são menos de 700 km, é praticamente a metade. E eles têm muita qualidade musical, é uma troca muito rica”, defendeu.
Desde 2012, Afonso é responsável pelo Bonito Blues Festival, que a partir de 2013 passou a se chamar Bonito Blues & Jazz Festival, trazendo importantes nomes da cena blueseira e jazzística do Brasil e do exterior, como Adriano Grineberg, Tiffany Harp, Vérsion Palma Loma Blues (PY) e Dominique Bernal (PY).
O desafio de exportar a nossa cultura
A douradense Fabiana Fernandes é um dos nomes por trás do sucesso do Brô MC’s, o primeiro grupo de rap indígena do país. Nascida em uma família de arte educadores em música e que tem uma escola de música desde 1980 na cidade, Fabiana se considera uma “artevista”.
Em 2019, conheceu o grupo Brô MC’s, formado por Veron, Clemersom Batista, Kelvin Mbaretê e Charlie Peixoto, das aldeias Jaguapiru e Bororó, que já tinha alguns anos de formação, mas “patinava” diante das inúmeras dificuldades: financeira, conhecimento técnico, entre outras.
Com sua experiência, Fabiana orientou os quatro integrantes a reencontrarem o caminho para suas raízes, seus princípios e convicções, traduzindo toda a força ancestral em letras potentes para novas músicas, figurino e posturas em palco. “A gente sabe que o que o Brô faz é ativismo, é rap de ação, que fala do cotidiano que vivem, que denuncia as difíceis condições de vida dos povos indígenas no país. Mas a gente não pode esquecer também que eles são um produto, por isso, precisamos pensar na qualidade do que está sendo entregue para esse mercado, mas sem abandonar sua essência e sua verdade, é isso que os torna tão especiais”, destacou.
Com o novo projeto “Retomada”, o grupo rompeu barreiras de preconceito e levou sua música e sua mensagem para palcos importantes, incluindo o Global Citizen, em Nova York, o palco Sunset no Rock in Rio 2022, o Grammy Latino e uma participação marcante no G20, no Rio de Janeiro. “Enquanto isso, fizemos apenas dois shows em nosso estado ao longo de todo o ano de 2024”, desabafa Fabiana, que considera a cena local ainda mais desafiadora que o cenário nacional e internacional.
O painel foi mediado por Oscar Mosqueira, do Circuito Cultural Guarani, e também contou com a participação do produtor de festivais e eventos, José Samaniego (PY).
O Campão Cultural acontece de 27 a 30 de março e de 3 a 6 de abril. Para conferir a programação completa, acesse o site ms.cultural ou siga a página @festivalcampaocultural no Instagram.
texto: Bianca Bianchi
fotos: Maurício Costa Jr