Paineis reuniram artistas e produtores culturais na tarde do sábado (30)
Uma tarde inteira dedicada a debater a importância e os desafios da circulação no mercado da música: assim foi a programação do sábado (segundo dia da Feira da Música), que acontece durante o Campão Cultural, no Centro Cultural José Octávio Guizzo (CCJOG).
Para alcançar a diversidade de realidades e esgotar o tema, foram realizados três paineis sobre o assunto: o primeiro debateu o panorama dos festivais e do mercado da música ao vivo, o segundo ressaltou a importância das pequenas rotas de circulação de shows e o último abordou caminhos e desafios para a circulação sustentável.
Panorama
Para a produtora cultural Amanda Souza, é impossível falar sobre o panorama atual dos festivais e da música ao vivo sem levar em consideração o impacto da pandemia no setor e o pós-pandemia também, que, segundo ela, está sendo mal cuidado. “Logo que foi autorizado realizar grandes eventos novamente, muitas marcas tinham muito dinheiro para gastar e fizeram vários festivais, vários shows grandes, enquanto isso, produtores independentes não tinham patrocínio nem espaço, então é preciso pensar em maneiras para que os artistas consigam coexistir de uma forma equilibrada”, defendeu.
Corroborando com a visão de Amanda, o baterista Bolha e a booker e produtora da banda “Molho Negro”, Carol Folha, relataram situações que viveram e que exemplificam a fala da produtora paulista. “Em 2020, eu tocava com uma dupla sertaneja feminina muito famosa, tínhamos um ano incrível de agenda de shows pela frente e a pandemia mudou um pouco os planos, mas não afetou financeiramente, por exemplo. Começamos a fazer lives, patrocinadas por marcas de cerveja e energéticos que davam milhões de visualizações”, relembra Bolha.
Enquanto isso, a cena independente e underground de Belém do Pará, no auge da polarização política, em 2018, criou o movimento “hardcore contra o fascismo” que ia para a rua pra protestar contra o fascismo, estabelecendo contato com o público. “A pandemia desmobilizou e o movimento aos poucos foi se perdendo. Foi preciso fazer lives com uma banda grande de hardcore para arrecadar recursos para que os artistas independentes e o pessoal que trabalha no backstage sobreviverem”, revelou Carol.
O peso da logística na circulação
Outro ponto fundamental para a circulação de artistas é a logística e como a falta de investimento público impacta nas possibilidades. “O custo das passagens aéreas e de hospedar a banda, por exemplo, inviabilizam muito. Principalmente quando são festivais totalmente privados, sem patrocínio, sem recurso público. O que acontece é que a gente precisa que o artista tenha um outro formato de show, com uma banda mais compacta, por exemplo, porque se é muita gente, interfere no valor do ingresso e acaba ficando inacessível”, afirmou a produtora Letz Espíndola.
Identidades e trocas
Que o Mato Grosso do Sul é afastado do eixo Rio – São Paulo não é novidade para ninguém, mas a artista douradense SoulRa destacou que, além da distância geográfica e territorial, temos também uma distância cultural. “Vejo que muitas vezes o brasileiro se sente mais próximo dos Estados Unidos do que da América Latina. E esse é só mais um motivo para eu, enquanto artista independente, fazer um trabalho de base, de maneira afirmativa, com música autoral, falando das minhas vivências no interior, cantando com sotaque. A gente precisa reafirmar nossa identidade para criar conexão com as pessoas”, defendeu.
A artista Larissa Conforto (AIYÊ), defende que, além de se orgulhar das origens e da identidade para fazer conexões, exista também uma troca de dados e informações entre os artistas para tornar a circulação mais sustentável. “Infelizmente, é raro, mas deveria haver uma troca de rotas e dados entre artistas com mais frequência. É fundamental que os artistas criem pequenas rotas em seus estados para fortalecer a cena local. É fundamental que troquem os contatos das casas de show e fomentadores de cultura nas cidades, que estabeleça um valor mínimo de cachê, tudo isso faz a diferença tanto para o artista quanto para o público daquela região”, afirmou.
Os paineis contaram também com a participação de Larissa Sossai, produtora da banda Calorosa (MT), João Lemos (Molho Negro), Thays Nogueira (O Balaio Feira Criativa), Maringá Borgert (Acapela Cineteatro), Thalysson (Ponto Bar) e o jornalista, músico e escritor Rodrigo Teixeira.
O Campão Cultural acontece de 27 a 30 de março e de 3 a 6 de abril. Para conferir a programação completa, acesse o site ms.cultural ou siga a página @festivalcampaocultural no Instagram.
texto: Bianca Bianchi
fotos: Maurício Costa Jr/ Bianca Bianchi